Colegas de sofrimento.
Apesar de tudo o que acontece com meu BOTAFOGO; apesar dessa que considero a mais desastrada Diretoria de todos os tempos, continuo a amar nosso querido ex-Glorioso. Afinal, ninguém ama um clube de tantas tradições no passado apenas pela (DES)administração que ele tem.
De qualquer modo, penso que quem ama o nosso BOTAFOGO não é chegado a fazer contas, não obedece à razão; age, simplesmente, movido a paixão. O verdadeiro amor ao time da camisa mais bonita e do escudo mais bonito do mundo acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção de estrelas – malgrado apenas uma Solitária seja o suficiente para conduzir a todos nós rumo ao começo da perda da razão.
Engrosso a fila dos que pensam que “ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais” – como bem remarca o Arnaldo Jabor, numa das suas crônicas mais conhecidas.
Isso também ocorre com o nosso ex-Glorioso, BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS. Ou seja, ama-se o BOTAFOGO pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que a camisa lhe dá, ou pelo tormento que o time provoca.
Ama-se o BOTAFOGO pelo tom de voz quem vem estridente das arquibancadas, pela maneira que os olhos piscam quando o time entra em campo, pela fragilidade que se revela quando mais se espera da sua zaga, do seu meio-campo e do seu ataque, numa partida de futebol.
Amar o BOTAFOGO é, simplesmente, assim: A gente ama o clube porque é gostoso ser torcedor petulante. A gente ama e morre pelo BOTAFOGO pelos simples fato de ter escrito dúzias de cartas e posts para quem o (DES)administra e eles não respondem a nenhum dos reclamos; porque a gente sonhou com flores e o time nos deixou a seco.
O amor ao BOTAFOGO (qualquer que seja a forma utilizada para expressar tal sentimento – civilizada, com expressões de baixo calão, não importa), pode ser comparado àquela paixão cega do cara que ama a mulher que possui gostos completamente diferentes do dele: Ele gosta de rock e ela de chorinho; ele gosta de praia e ela tem alergia a Sol; ele abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio se combinam; um é Jesus, o outro é Genésio; um é festa na Barra Funda, o outro, calça furada na barra… Dá-se assim o amor de um botafoguense com o time ingrato, dirigido por uma Diretoria não menos ingrata, insensível, insôssa, sem pé, nem cabeça!
Em sendo assim (e o é), não pergunte-me o porquê de termos que aturar nossas diferenças. De um jeito ou de outro, o simples fato de sermos torcedores do BOTAFOGO já nos torna inteligentes. A que me interessa se quem posta aqui lê livros, revistas, jornais? Que diferença faz, se o colega leitor gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor? Quem foi que disse, afinal, que aqui , na “GERAL ALVINEGRA”, é espaço para medir graus de amor ao BOTAFOGO? Amar o BOTAFOGO é o quanto nos basta!
Se a Branca, a Julinha, a Lorena são bonitas, se seus cabelos vieram ao mundo para ser sacudidos num comercial de xampu e seus corpos tem (ou não) todas as curvas no lugar, tanto faz.
Para amar e expressar sentimentos ao meu, ao nosso BOTAFOGO, independe de emprego fixo, bom saldo no banco. Também tanto faz se o cara gosta de freqüentar estádios, se aprecia viajar, se prefere a TV ao invés de sentar o oritimbó no cimento duro da arquiba, se tem loucura
por computador e se seu fettucine ao pesto é imbatível… tanto faz.
O leitor, não pega no pé de ninguém e adora interagir no blog, ante a omissão da Diretoria do clube? Um outro torcedor gosta de dizer verdades, ainda que tais verdades pareçam, aos olhos de alguns, como “verdades cruas”? E daí? Então, o simples fato de ser botafoguense não lhe confere o direito de vir aqui, na GERAL ALVINEGRA, expressar suas opiniões, seus sentimentos?
Ah, o amor ao BOTAFOGO. Quem dera nosso amor ao time da Estrela Solitária não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu um pobre chato + você inteligente e metido a dono do blog = dois apaixonados.
Ocorre que essa equação não funciona assim.
Amar o BOTAFOGO não requer conhecimento prévio do time que temos, nem consulta ao vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Amamos o ex-Glorioso justamente pelo que o BOTAFOGO tem de indefinível.
Torcedores “donos da verdade” existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons comentaristas e bons pais de família, tá assim, ó! – aqui na GERAL.
Mas ninguém consegue ser do jeito que queremos ser! Pensem nisso.
Nicanor Sena (Goiânia)